sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Resenha "Argo"

A evolução do cinema é impressionante: o que antes era considerado um programa de luxo, agora já é algo corriqueiro para famílias, casais e amigos que buscam diversão no fim de semana. Mas infelizmente as produções que levantam mais as bilheterias são aquelas que apelam para a comédia barata (com piadas pouco inteligentes e cenas muito apelativas) ou as aventuras com muitas explosões e efeitos especiais, e por isso o espaço para filmes cabeça que representam fatos históricos se encontra extremamente reduzido não só nas salas de cinema, como também na mente dos espectadores. Não vou negar que como a maior parte dessas pessoas se tivesse que escolher entre um filme de ação e um filme sobre a Revolução Iraquiana, com certeza a primeira opção seria a vencedora e por conta desse “preconceito” eu iria perder um filme maravilhoso como Argo.
            Com roteiro de Chris Terrio e direção de Ben Affleck (que também atua) a história dos seis diplomatas estadunidenses que fugiram durante a invasão da embaixada americana por revolucionários iranianos vai tomando forma. O filme se inicia com uma montagem de desenhos relatando o contexto histórico da época (fim dos anos 70) que consiste na luta contra o Xá Reza Pahlev, que tinha sido colocado no poder pelos EUA (sim, colocado), e se utilizava de um regime autoritário para explorar o petróleo e manda-lo para o ocidente garantindo, dessa forma, que fosse possível bancar todos os luxos que ele próprio se dava direito: como almoços em Paris e banhos de mel para sua esposa. Porém esses benefícios causados pela exploração petrolífera só alcançava uma pequena parcela da população, e abriu espaço para que o Aiatolá Khomeini pudesse se posicionar contra o regime e iniciar uma verdadeira revolução (a qual assistiu confortavelmente de Paris, na França). Outro fator determinante para que esse conflito estourasse foi a divergência religiosa, pois, apesar de ambos serem muçulmanos, o Xá era Sunita e Khomeini e a maior parte da população eram Xiitas (correntes opostas de uma mesma crença o que gera conflitos que trazem ainda mais problemas para o Oriente Médio).
     O longa-metragem se utiliza de uma passagem muito importante da revolução: a invasão da embaixada americana pelos revolucionários iranianos. Durante essa emboscada seis diplomatas que estavam no prédio conseguem fugir, indo pedir asilo à embaixada canadense, que concede. Logo eles conseguem fazer contato com os EUA, os agentes da CIA entram em ação para tirar os seis de lá sendo o principal responsável por essa emboscada Tony Mendez, (Ben Affleck) que tem a brilhante ideia de se utilizar da indústria cinematográfica (mais precisamente do tipo de filme sucesso de bilheteria que são as ficções científicas) para resgatar seus compatriotas. Para tanto ele conta com a ajuda do maquiador John Chambers (John Goodman) e do diretor Lester Siegel (Alan Arkin) que forjam um filme que, teoricamente, se passaria no cenário exótico do Oriente Médio (mais precisamente: do Irã) com direito a tudo que uma produção de Hollywood tem: roteiro, atores, cartaz, imprensa... E adivinhe o nome do tal filme? Argo.
            A principal ideia era trazer os diplomatas disfarçados de equipe técnica do filme. E desde que o agente levanta voo até o fim a história cada situação tem um timing de tenção fornecido pelo ângulo do qual são filmados os eventos: de dentro. Apesar de ser um filme histórico, não seria erro classifica-lo como uma aventura, pois entrar em um país que é inimigo do seu e sair com mais seis pessoas de uma ditadura extremamente controladora e ainda por cima enganar a imprensa mundial para que não houvesse falhas, na maior tranquilidade requer um sangue frio tremendo! Assisti duas vezes ao filme, e nas duas sentia meu coração se comprimir no peito ao pensar que eles poderiam não conseguir...
            Outro detalhe que chama muita atenção é o estilo de câmera usado no filme. O efeito desfocado que ela confere à imagem deixa a imersão no universo do longa ainda mais profunda. Você se sente ali, ao lado dos diplomatas, lutando pela própria vida. O que me lembra de ressaltar o excelente trabalho da equipe de caracterização, pois ao final do filme aparece uma foto do ator ao lado do rela diplomata que passou pela situação e a semelhança é impressionante!
            Enfim, o filme é impressionante. Uma história envolvente que vem se destacar dos já manjados roteiros de aventura. Creio que posso traduzir como o filme é bom apenas citando o fato de que ganhou a estatueta de melhor filme no Oscar 2013 concorrendo com produções maravilhosas como “As aventuras de Pi”; “Os Miseráveis”; “Lincol” e “ Django Livre”. Essa premiação reforça a minha ideia inicial de que filmes históricos deveriam ser levados mais em conta ao escolher o programa do fim de semana. Nunca ouviu dizer que a arte imita a vida?

Nenhum comentário:

Postar um comentário